Dinheiro é essencial para quem quer abrir seu próprio negócio. De nada adianta ter uma ideia brilhante se não houver o capital mínimo necessário para tornar a operação uma realidade.
“Quando você se torna um empreendedor, é como se tivesse decidido fazer o Caminho de Santiago de Compostela. O pé vai doer no meio do caminho, vai fazer bolha, você não vai chegar rápido no seu destino e possivelmente vai precisar de ajuda”, compara Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.
Na maioria das vezes, os empreendedores não têm todo o dinheiro que precisam para tirar uma ideia do papel. Por isso, é muito importante fazer um planejamento antes de colocar a mão na massa. Só assim você vai saber quanto realmente o negócio vai demandar.
“É claro que o capital próprio para quem está começando parece ser a opção mais ‘barata’, mas é preciso considerar vários fatores. O capital de terceiros pode vir acompanhado de ‘expertise’, de conhecimento sobre um mercado que você acabou de entrar e ainda está perdido”, diz Virginia Prestes, professora de finanças da Faculdade de Administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
EXAME.com conversou com especialistas e litou abaixo nove opções para quem está pensando em abrir o próprio negócio, mas não tem todo o dinheiro necessário para tirar os planos do papel.
Apesar da nomenclatura em inglês, o modelo de financiamento “3Fs” é bastante conhecido e adotado por novos empreendedores no Brasil e no mundo. É o clássico pedir dinheiro emprestado para parentes ou amigos.
“Aquele tio rico que você mantém um bom relacionamento, o incentivo que os pais querem te dar para conseguir andar com as próprias pernas ou até mesmo aquele velho amigo que não se importaria de te ajudar a tocar seu projeto pessoal”, diz Sérgio Luis Seloti Jr, professor de Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Mesmo sendo uma alternativa relativamente acessível para algumas pessoas, Prestes, da FAAP, faz um alerta: “tudo precisa ser bem combinado e formalizado. Mesmo sendo uma pessoa de confiança, misturar negócios com parentes e amigos nem sempre funciona.”
O crowdfunding é um financiamento coletivo, geralmente feito através da internet e bancado por pessoas físicas que se interessam pelo projeto e gostariam de vê-lo funcionando. Como não há limite de participantes, as contribuições começam em um valor bastante acessível, o que aumenta o potencial de participação e sucesso da campanha.
“Quando as pessoas apoiam um crowdfunding, elas normalmente recebem algo em troca. É uma forma de a empresa originada com a campanha agradecer pelo apoio financeiro que foi dado. Pode ser em forma de produtos ou serviços”, explica Seloti Jr, do Mackenzie.
Já o equity crowdfunding é bem parecido com o crowdfunding comum, a diferença é que, em vez de receber um produto ou serviço como recompensa pelo “apoio financeiro”, os participantes recebem uma parcela da futura companhia como recompensa. Ou seja, é como se eles estivessem comprando uma parte da empresa.
“A vantagem é que você não só vai ver o projeto sair do papel como você também será dono de uma pequena parte dele. Outra vantagem é que o seu prejuízo fica restrito ao aporte inicial”, diz Seloti Jr.
Esta é a opção mais clássica e talvez a primeira que vem à cabeça de muitos novos empreendedores. Mas não se engane: ela geralmente é a mais cara.
Bancos de fomento como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e bancos públicos como o Banco do Brasil, além de instituições privadas como o Santander, Itaú e Bradesco, costumam ter linhas destinadas a pequenas e médias empresas recém-nascidas.
“Os juros cobrados pelos bancos para as pequenas e médias empresas costumam ser muito altos, já que elas não conseguem oferecer garantias muito altas para as instituições financeiras em troca do dinheiro”, explica Prestes, da FAAP.
Se a sua ideia de negócio for uma startup, mas ela ainda está prematura e precisa ser lapidada antes de receber um aporte financeiro, é possível fazer isso dentro de uma incubadora. As incubadoras são ligadas a instituições de ensino e universidades que apoiam os empreendedores novatos.
“As incubadoras vão oferecer a estrutura e conhecimento mínimos necessários para os primeiros passos da nova empresa. Isso representa uma ajuda importante para quem está começando a entrar no mundo do empreendedorismo e ainda não está habituado a ele”, diz Prestes.
As aceleradoras são uma espécie de evolução das incubadoras. Elas escolhem startups com grande potencial de crescimento e oferecem apoio financeiro, estrutura, consultoria e treinamento em troca de uma participação no capital da nova empresa. Há no Brasil uma série de aceleradoras, como a Oxigênio, da Porto Seguro.
“Ser escolhido por uma aceleradora muda a vida de qualquer startup, sem dúvida. O problema é que o processo de seleção é muito concorrido. Geralmente, são muitas empresas para poucas vagas e o novo empreendedor não pode ficar limitado a isso”, afirma Prestes, da FAAP.
Se você não pretende misturar negócios e família ou acha muito arriscado partir para o crowdfunding, uma alternativa é encontrar um ou mais investidores-anjo. Eles são pessoas físicas que usam seu capital para investir em novas empresas que tenham alto potencial de crescimento, como as startups.
“Algumas organizações como a Anjos do Brasil são especializadas em conectar empreendedores com investidores-anjo. Vale a pena o novo empresário se informar sobre os eventos voltados para este tipo de público se ele estiver procurando alguém que acredite no produto dele e esteja interessado em emprestar seu capital para o projeto”, diz Rocha, do Insper.
Prestes, da FAAP, lembra que muitos investidores-anjo ao emprestarem dinheiro para as novas empresas deixam em aberto a possibilidade de transformar essa dívida em uma futura participação no negócio. “A remuneração do empréstimo acaba ficando em segundo plano”, afirma. Então, quem não está a fim de ter sócios em algum momento deve prestar bastante atenção nesta cláusula na hora de assinar o contrato.
O lado bom é que muitos desses investidores já emprestaram seus recursos para outras empresas ou são sócios de várias delas, o que pode agregar know-how ao novo projeto, aumentando suas chances de prosperar.
A lógica do capital semente é a mesma do investidor-anjo. A diferença é que o investidor-anjo é uma pessoa física, enquanto o capital semente vem de uma pessoa jurídica, através de um fundo de investimento, por exemplo.
“Neste caso, as empresas que o capital semente foca estão ainda em estágio inicial, mas em um segundo degrau. Elas já possuem uma estrutura, clientes, produtos definidos etc. Não são mais uma idéia ou plano no papel. Só que ainda dependem de recursos de terceiros para se estabelecerem no mercado”, diz Seloti Jr, do Mackenzie.
Diferente dos investidores-anjo e do capital semente, o venture capital é um modelo de financiamento para PMEs (pequenas e médias empresas) que já deixaram a fase inicial para trás, mas ainda necessitam de recursos para conseguir atingir seu potencial máximo.
“São fundos de venture capital que estão no portfólio de diversas gestoras. Tanto os fundos procuram as empresas, quanto as próprias companhias que estão precisando de financiamento podem procurar esses fundos”, afirma Prestes, da FAAP.
Fonte: https://goo.gl/C2F97X